terça-feira, 30 de outubro de 2007

2.1. Que há de novo na New Age?

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2.1. Que há de novo na Nova Era?

Para muitos, o termo “Nova Era” se refere a um momento decisivo da história. Segundo os astrólogos, vivemos na Era de Peixes, que foi dominada pelo cristianismo e que será substituída pela nova era de Aquário no começo do terceiro milénio [El término ya aparece en el título de The New Age Magazine, publicado por el Antiguo Rito Masónico Escocés Aceptado en la jurisdicción meridional de los Estados Unidos de América, remontándose a 1900. Cf. M. York,« The New Age Movement in Great Britain », en Syzygy. Journal of Alternative Religion and Culture, 1:2-3 (1992), Stanford CA, p. 156, nota 6. La datación exacta y la naturaleza del cambio a la Nueva Era son interpretadas de maneras distintas según los diferentes autores. Las estimaciones para tal fecha oscilan entre 1967 y 2376]. A Era de aquário adquire uma enorme importância no movimento da Nova Era, em grande parte por causa do influxo da teosofia, do espiritismo e da antroposofia, assim como dos seus antecedentes esotéricos. Os que sublinham a iminente mudança do mundo expressam muitas vezes o desejo desta mudança, não tanto no mundo mesmo quanto em nossa cultura, em nosso modo de relacionar-nos com o mundo. Isto é especialmente manifestado naqueles que acentuam a idéia de um Novo Paradigma de vida. É um enfoque atraente, visto que algumas de suas manifestações, os seres humanos não são espectadores passivos, mas sim desempenham um papel ativo na transformação da cultura e na criação de uma nova consciência espiritual. Em outras manifestações, se atribui um maior poder à progressão inevitável dos ciclos naturais. De qualquer modo, a Era de Aquário é uma visão, não uma teoria. Porém a Nova Era é uma tradição ampla que incorpora muitas idéias sem vinculação explícita com a mudança da Era de Peixes para a Era de Aquário. Entre elas existem visões moderadas, porém muito generalizadas, de um futuro no qual haverá uma espiritualidade planetária junto às religiões individuais, instituições políticas planetárias que complementarão as locais, entidades econômicas globais mais participativas e democráticas, uma maior importância das comunicações e da educação, um enfoque misto da saúde que combinará a medicina profissional e a autocura, uma compreensão do eu mais andrógina, e formas de integrar a ciência, a mística, a tecnologia e a ecologia. Mais uma vez, isto demonstra o profundo desejo de uma existência satisfatória e saudável para a raça humana e para o planeta. Entre as tradições que se juntaram na Nova Era podem contar-se: as antigas práticas do ocultismo egípcio, a cabala, o gnosticismo cristão primitivo, o sufismo, as tradições dos druidas, o cristianismo celta, a alquimia medieval, o hermetismo renascentista, o budismo zen, a yoga, etc. [A finales de 1977, Marilyn Fergusonenvió un cuestionario a 210 « personas comprometidas en la transformación social », a los que también llama « Conspiradores de Acuario ». Es interesante lo que sigue: « Cuando se pedía a los encuestados que dieran el nombre de los individuos cuyas ideas les habían influido, bien a través del contacto personal, bien por medio de sus escritos, los más nombrados, por orden de frecuencia, fueron: Pierre Teilhard de Chardin, C. G. Jung, Abraham Maslow, Carl Rogers, Aldous Huxley, Roberto Assagioli y J. Krishnamurti. También aparecen mencionados frecuentemente: Paul Tillich, Hermann Hesse, Alfred North Whitehead, Martin Buber, Ruth Benedict, Margaret Mead, Gregory Bateson, Tarthang Tulku, Alan Watts, Sri Aurobindo, Swami Muktananda, D. T. Suzuki, Thomas Merton, Willis Harman, Kenneth Boulding, Elise Boulding, Erich Fromm, Marshall McLuhan, Buckminster Fuller, Frederic Spiegelberg, Alfred Korzybski, Heinz von Foerster, John Lilly, Werner Erhard, Oscar Ichazo, Maharishi Mahesh Yoghi, Joseph Chilion Pearce, Karl Pribram, Gardner Murphy, y Albert Einstein »: The Aquarian Conspiracy. Personal and Social Transformation in Our Time, Los Angeles, (Tarcher) 1980, p. 50 (nota 1) y p. 434. (Trad. esp. La conspiración de Acuario. Transformaciones personales y sociales en este fin de siglo, Barcelona [Kairós] 1985)].
Nisto consiste o “novo” da Nova Era. É um “sincretismo de elementos esotéricos e seculares”[W.J. Hanegraaff , New Age Religion and Western Culture. Esotericism in the Mirror of Secular Thought, Leiden-New York-Köln (Brill) 1996, p. 520]. Vincula-se à percepção, amplamente difundida, de que o tempo está maduro para uma mudança fundamental dos indivíduos, da sociedade e do mundo. Há várias expressões da necessidade de mudança:
- da física mecanicista de Newton à física quântica;
- da exaltação da razão da modernidade a uma valorização do sentimento, da emoção e da experiência (descrita muitas vezes como um deslocamento do pensamento racional “do hemisfério esquerdo” ao pensamento intuitivo do “hemisfério direito”);
- do domínio da masculinidade e do patriarcado, a uma celebração da feminilidade nos indivíduos e na sociedade. Neste contexto se usa com freqüência o termo “mudança de paradigma” (paradigm shift). Às vezes, claramente se pressupõe que tal mudança não somente é desejável, porém inevitável. A negação da modernidade, subjacente a este desejo de mudança, não é nova. Ao contrário pode descrever-se como “um restabelecimento ou “revival” moderno das religiões pagãs com uma mistura de influências tanto das religiões orientais como da psicologia, da filosofia, da ciência e da contracultura modernas, desenvolvidas nos anos cinqüenta e sessenta”[Comisión Teológica Irlandesa, A New Age of Spirit? A Catholic Response to the New Age Phenomenon, Dublín 1994, capítulo 3]. A Nova Era não é senão uma testemunha de idéias e valores dominantes na cultura ocidental, apesar de que sua crítica idealista é, paradoxalmente, típica da cultura que critica.
É preciso dizer uma palavra sobre a idéia de mudança de paradigma. Foi popularizada por Thomas Kuhn, historiador americano da ciência, que concebeu o paradigma como “a constelação inteira de crenças, valores, técnicas, etc., compartilhados pelos membros de uma dada comunidade”[Cf. La estructura de las revoluciones científicas, México, FCE, 1995]. Quando se produz um deslocamento de um paradigma a outro, se trata de uma transformação em bloco da perspectiva mais do que um desenvolvimento gradual: na realidade, é uma revolução. Kuhn enfatizou que os paradigmas rivais são incomensuráveis e não podem coexistir. Por isso, afirmar que uma mudança de paradigma no âmbito da religião e da espiritualidade é simplesmente uma maneira nova de formular as crenças tradicionais, constitui um erro. O que acontece na verdade é uma mudança radical de cosmovisão, que invalida não só o conteúdo, mas também a interpretação fundamental da visão anterior. Talvez o exemplo mais claro de tudo isto, pelo que se refere à relação entre a Nova Era e o cristianismo, seja a reelaboração da vida e do significado de Jesus Cristo. É impossível reconciliar estas duas visões [Cf. Alessandro Olivieri Pennesi, Il Cristo del New Age. Indagine critica, Ciudad del Vaticano (Librería Editrice Vaticana) 1999, passim, pero especialmente las pp. 11-34. Véase también la sección 4 más abajo].
Está claro que a ciência e a tecnologia têm sido incapazes de cumprir suas promessas antigas pelo que os seres humanos se têm voltado para o âmbito espiritual em busca de significado e de libertação. Tal como agora a conhecemos, a Nova Era procedia da busca de algo mais humano e mais belo diante da experiência opressora e alienante da vida na sociedade ocidental. Seus primeiros expoentes, dispostos a estender seu olhar na direção desta busca, fizeram dela um enfoque muito eclético. Poderia ser um dos sinais da “volta à religião”, porém afinal não é uma volta às doutrinas e credos cristãos ortodoxos. Os primeiros símbolos deste “movimento” que se introduziram na cultura ocidental foram o conhecido festival de Woodstock, no Estado de Nova Iorque, em 1969, e o musical Hair, que expôs os principais temas da Nova Era em sua canção emblemática “Aquarius” [Merece la pena recordar la letra de esta canción, que se grabó inmediatamente en las mentes de toda una generación, tanto en Norteamérica como en Europa occidental: « When the Moon is in the Seventh House, and Jupiter aligns with Mars, then Peace will guide the Planets, and Love will steer the Stars. This is the dawning of the Age of Aquarius... Harmony and understanding, sympathy and trust abounding; No more falsehoods or derision –golden living, dreams of visions, mystic crystal revelation, and the mind's true liberation. Aquarius... » (« Cuando la Luna esté en la Séptima Casa, y Júpiter se alinee con Marte, entonces la Paz guiará a los Planetas, y el Amor conducirá a las Estrellas. Es el amanecer de la Era de Acuario... Abundarán la armonía y la comprensión, la simpatía y la confianza, no habrá más engaños ni más burlas: una vida dorada, sueños de visiones, una revelación mística cristalina, y la auténtica liberación de la mente. Acuario... »)]. Porém isto era tão somente a ponta de um icerbeg cujas verdadeiras dimensões se pode perceber somente numa época relativamente recente. O idealismo dos anos 1960 e 1970 ainda sobrevive em alguns setores. Porém agora já não são os adolescentes que estão principalmente envolvidos. Os vínculos com a ideologia política de esquerda se desvaneceram e as drogas psicodélicas já não têm a importância daquele tempo. Ocorreram tantas coisas desde aquele tempo que tudo isto já não é revolucionário. As tendências “espirituais e “místicas” que antes se limitavam à contracultura, hoje em dia fazem parte arraigada da cultura dominante e afetam facetas tão distintas da vida como a medicina, a ciência, a arte e a religião. A cultura ocidental está agora imbuída de uma consciência política e ecológica mais generalizada e todo este deslocamento cultural exerceu um enorme impacto nos estilos de vida das pessoas. Alguns sugeriram que o “movimento” Nova Era é precisamente essa grande mudança para o que se considera “um género de vida notavelmente melhor” [Paul Heelas, The New Age Movement. The Celebration of the Self and the Sacralization of Modernity. Oxford (Blackwell) 1966, p. 1 y s. La publicación de agosto de 1978 de la Coalición Cristiana de Berkeley lo expresa de este modo: « Hace exactamente diez años la espiritualidad “funky” a base de drogas de los hippies y la mística de los yogis occidentales se limitaban a la contracultura. Hoy día, ambas se han abierto camino en la corriente fundamental de nuestra mentalidad cultural. La ciencia, las profesiones de la salud, las artes, por no mencionar la psicología y la religión, están todas comprometidas en una reconstrucción fundamental de sus premisas básicas ». Citado en Marilyn Ferguson, The Aquarian Conspiracy. Personal and Social Transformation in Our Time, Los Angeles (Tarchner) 1980, p. 370 y ss.].

In: Pontifício Conselho Cultural e Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso - Jesus Cristo Portador da Água Viva: Uma reflexão cristã sobre a "Nova Era" http://www.itf.org.br/index.php?pg=conteudo&revistaid=8&fasciculoid=89&sumarioid=1346 = Instituto Teológico Franciscano (publicação parcial on-line, em português, no Brasil). O original é inglês. Edição portuguesa total, impressa: Paulinas, Março de 2003.

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