terça-feira, 30 de outubro de 2007

2.3.4.1. A pessoa humana e a New Age

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2.3. Princípios fundamentais do pensamento da Nova Era

2.3.4.1. O que diz a Nova Era sobre a pessoa humana?

A Nova Era implica uma crença fundamental na perfectibilidade da pessoa humana mediante uma ampla variedade de técnicas e terapias (em contraposição com a idéia cristã de cooperação com a graça divina). Existe uma coincidência de fundo com a idéia de Nietzsche de que o cristianismo impediu a manifestação plena da humanidade genuína. Neste contexto, a perfeição significa alcançar a própria realização segundo uma ordem de valores que nós mesmos criamos e que alcançamos por nossas próprias forças: daí que podemos falar de um eu autocriador. A partir desta ótica, há maior diferença entre os humanos tal como são agora e como serão quando tiverem realizado seu potencial, do que aquela que existe atualmente entre os humanos e os antropóides. É útil distinguir entre o esoterismo ou busca de conhecimento, e a magia, ou ocultismo: esta última é um meio para obter poder. Alguns grupos são ao mesmo tempo esotéricos e ocultistas. No centro do ocultismo existe uma vontade de poder baseada no sonho de tornar-se divino. As técnicas de expansão da mente têm por objetivo revelar às pessoas seu poder divino. Utilizando este poder, preparam o caminho para a Era da Iluminação. Esta exaltação da humanidade, cuja forma extrema é o satanismo, subverte a correta relação entre o Criador e a criatura. Satã se converte no símbolo de uma rebelião contra as convenções e as regras, símbolo que com freqüência adota formas agressivas, egoístas e violentas. Alguns grupos evangélicos manifestaram sua preocupação pela presença subliminar do que consideram simbolismo satânico em algumas variedades de música rock, que exercem uma profunda influência nos jovens. De qualquer modo, está muito longe a mensagem de paz e harmonia que se encontra no Novo Testamento e com freqüência é uma das conseqüências da exaltação da humanidade quando implica a negação de um Deus transcendente. Porém não se trata somente de algo que afete aos jovens. Os temas básicos da cultura esotérica também estão presentes nos âmbitos da política, da educação e da legislação. Isto se aplica especialmente à ecologia. Sua forte ênfase no biocentrismo nega a visão antropológica da Bíblia, segundo a qual o ser humano é o centro do mundo por ser qualitativamente superior às demais formas de vida natural. O ecologismo desempenha hoje um papel destacado na legislação e na educação, apesar de que deste modo rebaixa o ser humano. A mesma matriz cultural esotérica pode achar-se na teoria ideológica subjacente à política de controle da natalidade e nas experiências de engenharia genética, que parecem expressar o sonho humano de re-criar-se a si mesmo. Espera-se realizar este sonho decifrando o código genético, alterando as regras naturais da sexualidade e desafiando os limites da morte. Naquilo que poderia chamar-se um relato típico da Nova Era, as pessoas nascem com uma centelha divina, num sentido que recorda o gnosticismo antigo. Esta centelha as vincula à unidade do Todo, pelo que são essencialmente divinas, embora participem da divindade cósmica segundo distintos níveis de consciência. Somos co-criadores e criamos nossa própria realidade. Muitos autores da Nova Era sustentam que somos nós que escolhemos as circunstâncias de nossas vidas (inclusive nossa própria enfermidade e nossa própria saúde). Nesta visão cada indivíduo é considerado fonte criadora do universo. Porém necessitamos fazer uma viagem para compreender plenamente onde nos encaixamos dentro da unidade do cosmos. A viagem é a psicoterapia e o reconhecimento da consciência universal, a salvação. Não existe o pecado; somente existe conhecimento imperfeito. A identidade de cada ser humano se dilui no ser universal e no processo de sucessivas encarnações. As pessoas estão submetidas ao influxo determinante das estrelas, porém podem abrir-se à divindade que vive em seu interior, numa busca contínua (mediante as técnicas apropriadas) de uma harmonia cada vez maior entre o eu e a energia cósmica divina. Não é necessário qualquer Revelação ou Salvação alguma que chegue de fora das pessoas, mas simplesmente experimentar a salvação escondida no próprio interior (auto-salvação), dominando as técnicas psicofísicas que levam à iluminação definitiva. Algumas etapas do caminho até a auto-redenção são preparatórias (a meditação, a harmonia corporal, a liberação de energias de autocura). São o ponto de partida para processos de espiritualização, aperfeiçoamento e iluminação que ajudam às pessoas a adquirir maior autocontrole e uma concentração psíquica na “transformação” do eu individual em “consciência cósmica”. O destino da pessoa humana é uma série de encarnações sucessivas da alma em corpos distintos. Isto se entende não como o ciclo de samsara, no sentido de purificação como castigo, mas como uma ascensão gradual para o desenvolvimento perfeito do próprio potencial. A psicologia se utiliza para explicar a expansão da mente como experiência ‘mística”. A yoga, o zen, a meditação transcendental e os exercícios tântricos conduzem a uma experiência de plenitude do eu ou iluminação. Acredita-se que as “experiências culminantes“ (voltar a viver o próprio nascimento, viajar até as portas da morte, o biofeedback, a dança e inclusive as drogas, qualquer coisa que possa provocar um estado de consciência alterado) conduzem à unidade e à iluminação. Como só há uma Mente, algumas pessoas podem ser canais, canais para os seres superiores. Cada parte deste único ser universal está em contato com todas as demais partes. O enfoque clássico da Nova Era é a psicologia transpessoal, cujos conceitos básicos são a Mente Universal, o Eu Superior, o inconsciente coletivo e pessoal e o ego individual. O Ser Superior é nossa identidade real, ponte entre Deus como Mente divina e a humanidade. O desenvolvimento espiritual consiste no contato com o Ser Superior, que supera todas as formas de dualismo entre o sujeito e o objeto, a vida e a morte, a psique e o soma, o eu e os aspectos fragmentários desse mesmo eu. Nossa personalidade limitada é como uma sombra ou um sonho criados pelo eu real. O Ser Superior contém as recordações das (re-)encarnações anteriores.

In: Pontifício Conselho Cultural e Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso - Jesus Cristo Portador da Água Viva: Uma reflexão cristã sobre a "Nova Era" http://www.itf.org.br/index.php?pg=conteudo&revistaid=8&fasciculoid=89&sumarioid=1346
= Instituto Teológico Franciscano (publicação parcial on-line, em português, no Brasil). O original é inglês. Edição portuguesa total, impressa: Paulinas, Março de 2003.

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