terça-feira, 30 de outubro de 2007

2.2. Que pretende oferecer a New Age?

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2.2. O que pretende oferecer a Nova Era?

2.2.1. Encantamento: deve haver um anjo
Um dos elementos mais comuns da espiritualidade da Nova Era é a fascinação pelas manifestações extraordinárias e em particular pelos seres paranormais. As pessoas reconhecidas como médiuns asseguram que sua personalidade é possuída por outra entidade durante o transe, um fenômeno da Nova Era conhecido como “channeling” (canalização), no qual o médium pode perder o controle de seu corpo e de suas faculdades. Algumas pessoas que foram testemunhas destes acontecimentos não duvidariam em admitir que as manifestações são efetivamente espirituais, porém não procedem de Deus, apesar da linguagem de amor e luz que se costuma usar quase sempre. Provavelmente seja mais correto referir-se a isto como a uma forma contemporânea de espiritismo, mais que a uma espiritualidade em sentido estrito. Outros amigos e conselheiros do mundo do espírito são os anjos (que se converteram em centro de um novo negócio de livros e imagens). Quando na Nova Era se fala de anjos, se faz de maneira pouco sistemática, pois as distinções neste âmbito nem sempre se consideram úteis, sobretudo se são demasiado precisas, já que “há muitos níveis de guias, entidades, energias e seres em cada oitava do universo... Estão ali para que os escolhas e elejas segundo os teus próprios mecanismos de atração–repulsão” [22]. Estes seres espirituais às vezes são invocados de maneira “não religiosa” como uma ajuda para o relaxamento, com vista a melhorar a tomada de decisões e o controle da própria vida pessoal e profissional. Outra experiência da Nova Era, que asseguram possuir alguns que se auto-definem como “místicos”, consiste na fusão com alguns espíritos que ensinam através de pessoas concretas. Alguns espíritos da natureza são descritos como energias poderosas que existem no mundo natural e também nos “níveis interiores”: Isto é, aqueles aos quais se acede mediante o uso de rituais, drogas e outras técnicas para alcançar estados de consciência alterados. Está claro que, ao menos em teoria, a Nova Era muitas vezes não reconhece nenhuma autoridade espiritual além da experiência pessoal interior.

2.2.2. Harmonia e compreensão: boas vibrações
Fenómenos tão diversos como o Jardim de Findhorn e Feng Shui [23]representam uma diversidade de estilos que ilustram a importância de estar em sintonia com a natureza e o cosmos. Na Nova Era não existe distinção entre o bem e o mal. As ações humanas são fruto da iluminação ou da ignorância. Daí que não podemos condenar ninguém, e que ninguém tem necessidade de perdão. Crer na existência do mal só pode criar negatividade e temor. A resposta à negatividade é o amor. Porém não do tipo que tem que traduzir-se em ações, é mais uma questão de atitudes da mente. O amor é energia, uma vibração de alta freqüência; o segredo da felicidade e da saúde consiste em sintonizar com a grande cadeia do ser, de encontrar o próprio lugar nela. Os mestres e as terapias da Nova Era afirmam oferecer a chave para encontrar as correspondências entre todos os elementos do universo, de modo que a pessoa possa modular a tonalidade de sua vida e estar em harmonia absoluta com os demais e com tudo que a rodeia, se bem que o pano de fundo teórico varia de um para o outro [24].

2.2.3. Saúde: uma vida dourada
A medicina formal (alopática) tende na atualidade a limitar-se a curar doenças isoladas, concretas, e não alcança uma visão de conjunto da saúde da pessoa: isto tem provocado freqüentemente uma compreensível insatisfação. A popularidade das terapias alternativas tem aumentado enormemente porque asseguram abranger a pessoa em sua totalidade e se dedicam a remedir mais que a curar. Como se sabe, a saúde holística se centra no importante papel que desempenha a mente na cura física. Diz-se que a conexão entre os aspectos espirituais e físicos da pessoa se encontra no sistema imunológico ou no sistema dos chakras hindus. Na perspectiva da Nova Era, a enfermidade e o sofrimento procedem de uma atuação contra a natureza. Quando se está em sintonia com a natureza, pode-se esperar uma vida mais saudável e inclusive uma prosperidade material. Segundo alguns curandeiros da Nova Era, na realidade não teríamos por que morrer. O desenvolvimento do nosso potencial humano nos porá em contato com nossa divindade interior e com aquelas partes de nosso eu alienadas ou suprimidas. Isto se revela sobretudo nos Estados de Consciência Alterados (Alterated States of Consciousness, ASCs), induzidos ou pelas drogas ou por diversas técnicas de expansão da mente, particularmente no contexto da “psicologia transpessoal”. Costuma-se considerar o xamã como o especialista dos estados de consciência alterados, como aquele que é capaz de ser um medianeiro entre os reinos transpessoais dos deuses e dos espíritos e o mundo dos humanos.
Existe uma notável variedade de enfoques que promovem a saúde holística, derivados uns das antigas tradições culturais, conectados outros com as teorias psicológicas desenvolvidas em Esalen durante os anos 1960-1970. A publicidade relacionada com a Nova Era cobre um amplo espectro de práticas, tais como a acupuntura, o biofeedback, a quiroterapia, a quinesiologia, a homeopatia, a iridologia, massagem e vários tipos de “técnicas corporais” (tais como ergonomia, Feldenkreis, reflexologia, rolfing, massagem de polaridade, toque terapêutico, etc.), a meditação e a visualização, as terapias nutricionais, tratamentos psíquicos, vários tipos de medicina à base de plantas, a cura mediante os cristais (cristaloterapia), metais (metaloterapia), música (musicoterapia) ou cores (cromoterapia), as terapias de reencarnação e, por último, os programas dos doze passos e os grupos de auto-ajuda [25]. Afirma-se que a fonte da cura está dentro de nós mesmos, que a podemos alcançar quando estamos em contato com nossa energia interior ou com a energia cósmica.
Enquanto a saúde inclui um prolongamento da vida, a Nova Era oferece uma fórmula oriental em termos ocidentais. Originalmente, a reencarnação fazia parte do pensamento cíclico hindu, baseada no atman ou núcleo divino da personalidade (mais tarde, o conceito de jiva), que se transferia de um corpo para outro corpo em um ciclo de sofrimento (samsara), determinado pela lei do karma, vinculado ao comportamento nas vidas passadas. A esperança se apóia na possibilidade de nascer num estado melhor ou, definitivamente, na libertação da necessidade de tornar a nascer. Diversamente da maioria das tradições budistas, o que vaga de corpo em corpo não é uma alma, mas sim um continuum de consciência. Em ambas tradições, a vida presente está encerrada num processo cósmico potencialmente infinito, sem fim, que inclui até os deuses. No Ocidente, depois de Lessing, a reencarnação foi entendida de maneira muito mais otimista, como um processo de aprendizagem e de realização individual progressiva. O espiritismo, a teosofia, a antroposofia e a Nova Era vêem a reencarnação como uma participação na evolução cósmica. Este enfoque pós-cristão da escatologia se considera como a resposta a questões não resolvidas pela teodicéia e prescinde do conceito de inferno. Quando a alma se separa do corpo, os indivíduos podem voltar o olhar para toda a sua vida até esse instante e quando a alma se une a seu novo corpo se obtém uma visão antecipada da seguinte fase da vida. A pessoa pode aceder a suas vidas anteriores mediante os sonhos e as técnicas de meditação [26].

2.2.4. Totalidade: uma viagem mágica ao mistério
Uma das preocupações centrais do movimento Nova Era é a busca da “totalidade”. Convida a superar todas as formas de “dualismo”, já que essas divisões são um produto doentio de um passado menos iluminado. As divisões que, segundo os promotores da Nova Era, se devem superar, incluem a diferença real entre o Criador e a criação, a distinção real entre o ser humano e a natureza ou entre o espírito e a matéria, todas as quais são consideradas erroneamente como formas de dualismo. Supõe-se que estas tendências dualistas estão baseadas em definitivo nas raízes judeu-cristãs da civilização ocidental, quando na realidade seria mais correto vinculá-las ao gnosticismo, e em particular ao maniqueísmo. A revolução científica e o espírito do racionalismo moderno são considerados culpados especialmente da tendência à fragmentação que considera as unidades orgânicas como mecanismos redutíveis a seus componentes menores, que podem explicar-se depois em função destes últimos, assim como da tendência a reduzir o espírito à matéria de maneira que a realidade espiritual – incluindo a alma – se converte em mero “epifenômeno” contingente de processos essencialmente materiais. Em todas estas áreas, as alternativas da Nova Era recebem o nome de “holísticas”. O holismo impregna todo o movimento Nova Era, desde seu interesse pela saúde holística até a busca da consciência unitiva, e desde a sensibilidade ecológica até a idéia de uma “rede” global.

In: Pontifício Conselho Cultural e Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso - Jesus Cristo Portador da Água Viva: Uma reflexão cristã sobre a "Nova Era" http://www.itf.org.br/index.php?pg=conteudo&revistaid=8&fasciculoid=89&sumarioid=1346 = Instituto Teológico Franciscano (publicação parcial on-line, em português, no Brasil). O original é inglês. Edição portuguesa total, impressa: Paulinas, Março de 2003.

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