terça-feira, 30 de outubro de 2007

2.3.1. New Age e Tempos de crise

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2.3. Princípios fundamentais do pensamento da Nova Era

2.3.1. Uma resposta global em tempos de crise

“Tanto a tradição cristã como a fé leiga no progresso ilimitado da ciência tiveram que enfrentar uma grave ruptura manifestada pela primeira vez nas revoltas estudantis de 1968”. A sabedoria das velhas gerações de repente ficou sem significado e sem respeito, enquanto se desvanecia a onipotência da ciência, de maneira que a Igreja agora “tem que enfrentar uma grave crise na transmissão de sua fé às gerações jovens”. A perda generalizada de confiança nestes antigos pilares da consciência e da coesão social foi acompanhada por um retorno inesperado da religiosidade cósmica, de rituais e crenças que muitos pensavam tinham sido suplantados pelo cristianismo. Só que esta perene corrente esotérica subterrânea na realidade nunca se tinha extinguido. Em compensação, parecia novo no contexto ocidental o pico da popularidade da religião asiática, sob a influência do movimento teosófico do fim do século XIX que “reflete a crescente consciência de uma espiritualidade global que incorpora todas as tradições religiosas existentes”.
A eterna questão filosófica da unidade e da multiplicidade tem sua forma moderna e contemporânea na tentação não somente de superar uma divisão indevida, mas inclusive também a diferença e a distinção reais. Suas expressões mais comuns é o holismo, ingrediente essencial da Nova Era e um dos principais sinais dos tempos no último quarto do século XX. Investiram-se grandes energias no esforço para superar a divisão em compartimentos estanques característica da ideologia mecanicista, porém isto provocou a submissão a uma rede global que adquire uma autoridade quase transcendental. Suas implicações mais óbvias são o processo de transformação consciente e o desenvolvimento da ecologia. A nova visão, meta da transformação consciente, demorou a ser formulada e sua aplicação se ver obstaculizada por formas de pensamento mais antigas, que se consideram entrincheiradas no status quo. Em compensação, teve um enorme êxito a generalização da ecologia como fascinação pela natureza e ressacralização da terra, a Mãe Terra ou Gaia, graças ao zelo missionário característico dos “verdes”. A raça humana como conjunto é o agente executivo da Terra e a harmonia e compreensão que se requerem para o governo responsável que vai sendo compreendida de maneira progressiva como um governo global, com uma estrutura ética global. Considera-se que o calor da Mãe Terra, cuja divindade penetra toda a criação, preenche o vazio entre a criação e o Deus-Pai transcendente do judaísmo e do cristianismo, eliminando a possibilidade de ser julgado por este último.
Nesta visão de um universo fechado, que contém “Deus” e outros seres espirituais junto conosco, se descobre um panteísmo implícito. Este é um ponto fundamental que impregna todo o pensamento e a atuação da Nova Era e que condiciona de antemão qualquer outra avaliação positiva deste ou daquele aspecto de sua espiritualidade. Como cristãos cremos, pelo contrário, que “o ser humano é essencialmente uma criatura e como tal permanece para sempre, de tal forma que nunca será possível uma absorção do eu humano no Eu divino”.

In: Pontifício Conselho Cultural e Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso - Jesus Cristo Portador da Água Viva: Uma reflexão cristã sobre a "Nova Era" http://www.itf.org.br/index.php?pg=conteudo&revistaid=8&fasciculoid=89&sumarioid=1346 = Instituto Teológico Franciscano (publicação parcial on-line, em português, no Brasil). O original é inglês. Edição portuguesa total, impressa: Paulinas, Março de 2003.

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