terça-feira, 30 de outubro de 2007

2.5. Crescimento e difusão da New Age

2.5. Por que a Nova Era cresceu com tanta rapidez e se difundiu de maneira tão eficaz?
«Por mais objeções e críticas que suscite, a Nova Era é uma tentativa de levar calor a um mundo que muitos experimentam como cruel e impiedoso. Como reação diante da modernidade, age quase sempre no nível dos sentimentos, instintos e emoções. A angústia diante de um futuro apocalíptico de instabilidade econômica, incerteza política e mudanças climáticas desempenha um papel importante na busca de uma relação alternativa e decididamente otimista com o cosmos. Existe uma busca de plenitude e felicidade, com freqüência num nível explicitamente espiritual. Porém é significativo que a Nova Era tenha gozado de um êxito enorme numa era que pode caracterizar-se pela exaltação quase universal da diversidade. A cultura ocidental deu um passo além da tolerância - no sentido de aceitar de má vontade ou suportar a idiossincrasia de pessoas ou grupos minoritários – à erosão consciente do respeito à normalidade. A normalidade se apresenta com conotações moralistas, vinculadas necessariamente a normas absolutas. Para um número crescente de pessoas, as crenças ou normas absolutas indicam somente a incapacidade de tolerar as idéias e convicções das demais pessoas. Neste ambiente, tornaram-se moda os estilos de vida alternativos: ser diferente não só é aceitável, mas positivamente bom. É essencial levar em conta que as pessoas se relacionam com a Nova Era de maneiras muito distintas e em graus diversos. Na maioria dos casos não se trata realmente de uma “pertença” a um grupo ou movimento. Tampouco há uma consciência muito clara dos princípios sobre os quais se baseia a Nova Era. Aparentemente, a maioria das pessoas se sentem atraídas por terapias ou práticas concretas, sem conhecimento das posições de fundo que estas implicam; outros não são mais que consumidores ocasionais de produtos que levam a etiqueta “Nova Era”. Aqueles que utilizam a aromaterapia ou escutam música New age, por exemplo costumam estar interessados pelo efeito que tem na sua saúde ou bem-estar. Somente uma minoria se aprofunda nestes temas e procura entender seu significado teórico (ou “místico”). E isto combina perfeitamente com os esquemas das sociedades de consumo nas quais o ócio e o entretenimento desempenham um papel fundamental. O “movimento” se adaptou perfeitamente às leis do mercado e o fato de que a Nova Era se tenha difundido tanto se deve em parte ao resultado de uma proposta econômica muito atrativa. A Nova Era, ao menos em algumas culturas, se apresenta como uma etiqueta para um produto criado, aplicando os princípios da mercadologia a um fenômeno religioso. Sempre haverá um modo de aproveitar-se das necessidades espirituais das pessoas. Como muitos outros elementos da economia contemporânea, a Nova Era é um fenômeno global que se mantém unido e se alimenta graças à informação dos meios de comunicação de massas. Pode-se discutir se foram os meios de comunicação que criaram este fenômeno ou não; o que está claro é que a literatura popular e as comunicações de massa garantem uma rápida difusão, em escala universal das noções comuns defendidas pelos “crentes” e simpatizantes. No entanto, não é possível saber se esta difusão tão rápida das idéias obedece ao acaso ou a um projeto deliberado, já que se trata de comunidades muito pouco rígidas. Da mesma forma que acontece nas “cibercomunidades” criadas pela Internet, este é um âmbito no qual as relações entre as pessoas podem ser ou muito impessoais ou interpessoais só num sentido muito seletivo. A Nova Era se fez sumamente popular como um vago conjunto de crenças, terapias e práticas, escolhidas e combinadas com freqüência segundo o próprio gosto, independentemente das incompatibilidades ou incongruências que implique. Além disso é o que cabe esperar de uma cosmovisão conscientemente baseada no pensamento intuitivo do “hemisfério direito do cérebro”. Precisamente por isso é tão importante descobrir e reconhecer as características fundamentais das idéias da Nova Era. O que esta oferece costuma descrever-se simplesmente como algo “espiritual”, mais que como pertencente a uma religião concreta. Não obstante, os vínculos com algumas religiões orientais concretas são muito mais estreitos do que imaginam alguns “consumidores”. Naturalmente isto é importante para os grupos de “oração” nos quais uma pessoa decide integrar-se, porém é também um problema real na gestão de um número crescente de empresas, a cujos empregados se exige fazer meditação e adotar técnicas de expansão mental como parte da vida profissional. Valeria a pena acrescentar ainda algumas breves palavras sobre a promoção organizada da Nova Era como ideologia, porém se trata de um assunto sumamente complexo. Diante da Nova Era, alguns grupos reagiram com acusações generalizadas de conspiração”. Costuma-se responder que estamos assistindo a uma mudança cultural espontânea cuja trajetória está em grande parte determinada por influências que escapam do controle humano. Não obstante, basta assinalar que a Nova Era partilha com um bom número de grupos internacionalmente influentes o objetivo de substituir ou transcender as religiões particulares para deixar espaço para uma religião universal que unifique a humanidade. Estreitamente relacionado com isto, existe um esforço conjunto concreto por parte de muitas instituições para inventar Ética Global, um esquema ético que refletiria a natureza global da cultura, da economia e da política contemporâneas. Ainda mais, a politização das questões ecológicas influi em todo o tema das hipóteses Gaia ou culto da mãe terra.»
In: Pontifício Conselho Cultural e Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso - Jesus Cristo Portador da Água Viva: Uma reflexão cristã sobre a "Nova Era" http://www.itf.org.br/index.php?pg=conteudo&revistaid=8&fasciculoid=89&sumarioid=1346 = Instituto Teológico Franciscano (publicação parcial on-line, em português, no Brasil). O original é inglês. Edição portuguesa total, impressa: Paulinas, Março de 2003.

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