terça-feira, 30 de outubro de 2007

2. Nova Era (New Age) e Cristianismo

2. A ESPIRITUALIDADE DA NOVA ERA.
VISÃO GERAL
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Em muitas sociedades ocidentais, e de maneira crescente também em outras partes do mundo, os cristãos com freqüência entram em contacto com diversos aspectos do fenómeno conhecido como Nova Era. Muitos deles sentem a necessidade de entender como podem aproximar-se da melhor maneira possível de algo tão sedutor e, ao mesmo tempo, complexo, esquivo e em certas ocasiões perturbador.
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Estas reflexões pretendem ajudar os cristãos a fazer duas coisas:

.- identificar os elementos do desenvolvimento da tradição da Nova Era;

.- apontar os elementos incompatíveis com a revelação cristã.

Esta é uma resposta pastoral a um desafio actual. Não pretende proporcionar uma lista exaustiva dos fenómenos da Nova Era, já que isso exigiria um volumoso tratado, além do que esta informação está disponível em outros lugares. É essencial tentar compreender a Nova Era correctamente para avaliá-la com imparcialidade e evitar criar uma caricatura da mesma. Seria insensato, além de falso, dizer que tudo o que é relacionado com este movimento é bom, ou que é mau tudo aquilo que se refere a ele. Não obstante dada a visão subjacente à religiosidade da Nova Era, em termos gerais é difícil reconciliá-la com a doutrina e a espiritualidade cristãs.

A Nova Era não é um movimento no sentido em que normalmente se emprega o termo “Novo Movimento Religioso”, nem é aquilo que normalmente se dá a entender com os termos “culto” ou “seita”. É muito mais difuso e informal, já que atravessa as diversas culturas, em fenómenos tão variados como a música, o cinema, seminários, oficinas, retiros, terapias, e em outros muitos acontecimentos e actividades, embora alguns grupos religiosos ou para-religiosos tenham incorporado conscientemente alguns elementos da Nova Era, e inclusive alguns tenham sugerido que esta corrente foi fonte de inspiração para várias seitas religiosas e para-religiosas [Cf. Michel Lacroix, L'Ideologia della New Age, Milano (il Saggiatore) 1998, p. 86. La palabra « secta » se usa aquí no en sentido peyorativo, sino más bien para denotar un fenómeno sociológico]. No entanto, a Nova Era não é um movimento individual uniforme, mas antes uma rede ampla de seguidores cuja característica consiste em pensar globalmente e actuar localmente. Aqueles que fazem parte dessa rede não se conhecem necessariamente uns aos outros e raramente se reúnem, se é que chegam a fazê-lo. Com o fim de evitar a confusão que pode surgir ao usar o termo “movimento”, alguns se referem a Nova Era como um “ambiente” (milieu) [Cf. Wouter J. Hanegraaff, New Age Religion and Western Culture. Esotericism in the Mirror of Secular Thought, Leiden-New York-Köln (Brill) 1996, p. 377 et passim] ou um “culto de audiência” (audience cult) [Cf. Rodney Starkand William Sims Brainbridge, The Future of Religion. Secularisation, Revival and Cult Formation, Berkeley (University of California Press) 1985] . No entanto, também se tem destacado que “é uma corrente de pensamento muito coerente”[Cf. M. Lacroix, op. cit., p. 8], um desafio deliberado da cultura moderna. É uma estrutura sincretista que incorpora muitos elementos diversos e que permite compartilhar interesses ou vínculos em graus distintos e com níveis de compromissos muito variados. Muitas tendências, práticas e atitudes mais ou menos vinculadas à Nova Era, na realidade são parte de uma reação mais ampla, facilmente identificável, contra a cultura dominante, de modo que o termo “movimento” não está completamente fora de lugar. Pode aplicar-se à Nova Era no mesmo sentido em que se aplica a outros movimentos sociais de vasto alcance, tais como o movimento pelos direitos civis ou o movimento pela paz. Assim como eles, abrange um impressionante conjunto de pessoas vinculadas aos objectivos fundamentais do movimento, porém sumamente diferentes pela maneira em que se vinculam a ele e pelo modo de entender algumas questões concretas.

A expressão “religião da Nova Era” é mais controvertida, pelo que convém evitá-la, apesar de que a Nova Era é com freqüência uma resposta a perguntas e necessidades religiosas, que exerce sua atração sobre pessoas que tratam de descobrir ou redescobrir uma dimensão religiosa em sua vida. Evitar o termo “religião da Nova Era” não significa de modo algum pôr em questão o caráter genuíno da busca de significado e de sentido da vida por parte dessas pessoas. Respeita o facto de que muitos daqueles que estão dentro do movimento Nova Era distinguem cuidadosamente entre “religião” e “espiritualidade”. Muitos rejeitaram a religião organizada, porque a seu juízo não conseguia responder a suas necessidades e por isso se dirigiram a outros lugares para encontrar “espiritualidade”. Mais ainda, no coração da Nova Era está a crença de que a época das religiões particulares passou, e por isso referir-se a ele como uma religião seria contradizer sua própria autocompreensão. Não obstante, pode situar-se a Nova Era no contexto mais amplo da religiosidade esotérica, cujo atrativo continua crescendo [O curso suiço « Theologie für Laien » intitulado Faszination Esoterik planteia-o com claridade. Cf. « Kursmappe 1 – New Age und Esoterik », texto acompanhado de diapositivos, p. 9].

Existe um problema implícito no presente texto. Tratando de entender e avaliar algo que é essencialmente uma exaltação da riqueza da experiência humana, inevitavelmente se objectará que jamais poderá fazer justiça a um movimento cultural cuja essência é precisamente romper com o que se consideram os limites restritivos do discurso racional. Na realidade, tem por objetivo convidar os cristãos a levar a sério a Nova Era e, como tal, pede àqueles que o lerem entrarem em um diálogo crítico com aqueles que se aproximam do mesmo mundo a partir de perspectivas muito diferentes.

A eficácia pastoral da Igreja no terceiro milénio depende em grande parte da preparação de comunicadores eficientes da mensagem evangélica. O que segue é uma resposta às dificuldades expressas por muitos que estão em contacto com esse fenómeno tão complexo e escorregadiço conhecido como a Nova Era. É uma tentativa de compreender o que é a Nova Era e de identificar as perguntas às quais esta pretende oferecer respostas e soluções. Já existem excelentes livros e outros materiais que analisam o fenómeno no seu conjunto ou que explicam aspectos particulares com grande detalhe. Nós referiremo-nos a alguns deles no apêndice. Não obstante, nem sempre realizam o necessário discernimento à luz da fé cristã. O propósito do presente texto é ajudar aos católicos a encontrar uma chave para entender os princípios básicos que há por trás do pensamento da Nova Era, de modo que possam avaliar cristãmente os elementos da Nova Era que encontram. Convém recordar que muitas pessoas rejeitam o termo “Nova Era” e sugerem a expressão “espiritualidade alternativa” como mais correcta e menos restritiva. Também é verdade que muitos dos fenómenos mencionados neste documento provavelmente não levam nenhuma etiqueta particular, porém pressupõe-se, para ser breve, que os leitores identificaram o fenómeno ou conjunto de fenómenos que podem estar razoavelmente vinculados com o movimento cultural geral conhecido habitualmente como Nova Era.

In: Pontifício Conselho Cultural e Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso - Jesus Cristo Portador da Água Viva: Uma reflexão cristã sobre a "Nova Era" http://www.itf.org.br/index.php?pg=conteudo&revistaid=8&fasciculoid=89&sumarioid=1346 = Instituto Teológico Franciscano (publicação parcial on-line, em português, no Brasil). O original é inglês. Edição portuguesa total, impressa: Paulinas, Março de 2003.

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